Monday, August 16, 2010

Fernanda Torres na Folha - influência como murista? O negócio, então, fica sério

Crítica a "Uni, duni, tê", de Fernanda Torres, publicado na Folha de S.Paulo ontem, 15/8.
Pela editora do blog.
O texto de Fernanda está logo após esta análise.

Fernanda é melhor humorista do que a murista que diz ser no artigo de sua autoria, publicado ontem.
A atriz assina, na Folha, texto ruim, que quase passa como tese importante na primeira metade, mas tudo acaba na bobagem. Então, mais informados justamente com a constatação da bobagem (um indicador importante aqui), voltamos ao início e relemos tudo. Sr. F e sra. N... Hum... 
O "senhor" é de propósito, como todo o resto; um disfarce - porque F parece, agora, de Fernanda; Fernanda Torres. F "sempre votou no PT..." 
Sra. N... Seria um duplo "n" - "nele não"? Não preciso do uni, duni, tê.



As falhas - graves - do texto de Fernanda são apresentadas em duas partes: (1) gramática e estilo redacional e (2) tese, conforme se segue. O artigo de Fernanda Torres, repito, vem depois de minha crítica.

Gramática e estilo redacional

Estas observações são em prol do Belo Português, paladino da harmonia entre tantos.

A) sujeitos distintos não permitem a construção empregada:
Descartados os conceitos superficiais, como o de que Dilma não é simpática e Serra é mandão, e perdida entre opiniões que prezo imensamente, pedi que...
(segundo parágrafo).
Os "conceitos superficiais" é sujeito da primeira oração, enquanto a autora é quem está perdida, sendo assim, o sujeito da oração seguinte. E, também, sujeito da terceira oração. Nesse tipo de construção, todas as orações devem ter o mesmo sujeito.
Solução: Tendo descartado [eu] os conceitos... e perdida [eu]..., pedi [eu]...

B) referência ficou muito distante do objeto referido:
...pedi que dois deles
Apenas os muito perspicazes na leitura (raros) deduzem que "dois deles" são dois dos amigos da atriz, a que ela aludi "lá" no parágrafo anterior.

C) ambiguidade: 
O sr. F sempre votou no PT e diz que Lula se saiu muito melhor do que ele mesmo esperava.
Quem é "ele mesmo"? O sr. F ou Lula? O "mesmo" induz para o próprio Lula. Mas como a atriz já mostrou que não é cuidadosa no escrever, devemos deduzir o oposto: que "ele mesmo" é F, ainda mais que ele "sempre votou  no PT". Rigorosamente, contudo, não dá mesmo para saber. O trecho teria de ser mudado para se eliminar a ambiguidade.

D) preposição repetida indevidamente e verbo espúrio:
...Lula diminuiu o risco Brasil, o valor do dólar, da taxa de juros e da inflação.

Ao grafar "da" taxa de juros e "da" inflação, a autora faz estes dois elementos atrelados a "valor", junto com "dólar". Ou seja, valor do dólar, valor da taxa de juros e valor da inflação. Percebemos - agora ainda mais nitidamente - que não cabe "valor da taxa" (embora alguns na fila dos bancos achem isso correto), muito menos ainda é correto "valor da inflação". Valor do dólar é aceitável já que uma moeda pode estar valorizada ou desvalorizada. Mas isso não se aplica à taxa de juros e à inflação. Diminuir, por sua vez, é um verbo mal colocado no contexto. Reduzir é melhor, mas isso me parece perdoável por a atriz escrever informalmente - o que não pode implicar, contudo, escrever descuidadamente para errar feio.
Solução - a adotada pelos bons economistas: Lula reduziu o risco Brasil, o valor do dólar, a taxa de juros e a inflação.

E) outra ambiguidade:
...PT como um partido mais à esquerda em relação ao PSDB, focado no fortalecimento do Estado...
Que partido é focado no fortalecimento do Estado? PT ou PSDB? Leitor, não responda! Sua opinião não entra aqui. A autora é quem opina, e o que ela quis dizer não necessariamente é o que você, leitor, pensa.

F) outra falha quanto à construção, que embaralha sujeitos:
Apesar do apoio de políticos como Collor e Renan Calheiros, o sr. F argumenta que Dilma tem ao seu lado um partido...

Assim escrito, quem tem o "apoio de políticos" é o sr. F, o sujeito da oração seguinte. Mas, desta vez, somos capazes de deduzir que houve o erro, e que Dilma é quem tem o tal apoio.
Solução: Apesar do apoio de políticos como Collor e Renan Calheiros, Dilma, como argumenta o sr. F, tem ao seu lado um partido...
Pequenas diferenças, grandes avanços. Um texto bem escrito não cansa o leitor com "deduções" constantes.

G) ideia em parágrafo que não a acolhe:
Apesar do apoio de políticos como Collor e Renan Calheiros, o sr. F argumenta que Dilma tem ao seu lado um partido, o PMDB, com uma diversidade ideológica maior do que a direita convicta reinante no DEM, em parte do PMDB, no PTB e no PPS, aliados de José Serra. Para ele, comparado com Roberto Jefferson, José Sarney mais parece Che Guevara.

A última oração - que não entendo - nada tem a ver com o restante do parágrafo. O blog http://sergyovitro.blogspot.com, ao reproduzir a matéria de Fernanda Torres, coloca tal oração em parágrafo exclusivo para ela. Na Folha, porém, a oração está no parágrafo que começa com "Apesar do apoio".

H) "onde" é só para lugar
... numa prática onde...
Solução: ...numa prática em que...

I) concordância:
São visões tão opostas, plausíveis e contundentes que, às vezes, aqui da minha posição extremo murista, me dá vontade de escolher...
As visões dão vontade. Erro induzido pela distância entre sujeito e verbo. Na chamada, o editor do jornal corrige isso e grafa "dão vontade".



Tese

Comentários sobre a argumentação da autora. É nesse aspecto que o texto é mais fraco. Muito fraco. Vejamos:

A)  Conclusão, nitidamente afobada, confunde pessoas para incluir a autora.
No penúltimo parágrafo, a autora apresenta dois pontos em que F e N concordariam, em relação aos dois presidenciáveis analisados. Ao chegar ao segundo ponto, a autora "esquece" que versava sobre as opiniões de F e N e se inclui como opinante também. Reparem, em especial, o verbo na primeira pessoa do plural:
Em dois pontos o sr. F e a sra. N concordam. O primeiro é que, apesar das bandeiras de Marina serem relevantes, sua ligação com uma igreja moralmente tão retrógrada e com um poder crescente no Brasil os afasta da vontade de apoiá-la; o segundo é que temos de acender uma vela forte e rezar pela saúde dos dois candidatos.

"Temos" de acender... Fernanda, afoita, entrega o jogo, o artifício de usar F e N para comparar - com suas próprias opiniões e não, de fato, de seus amigos - os dois presidenciáveis mais promissores. Ao apresentar o primeiro ponto, a autora mantém o esquema e grafa: ...os afasta da vontade de apoiá-la. "Os" se refere a F e N e o "la", a Marina, atrás na "corrida". E a autora está fora, ao descrever.
Ao concordar a atriz-autora junto com F e N, no segundo ponto, faz mais mal a sua tese do que estragar o artifício empregado ao longo de todo o texto. A autora - que tem de aparecer na conclusão - de fato aparece, estragando aquele artifício. Mas o faz para dar um desfecho totalmente irrelevante e inconsistente. Isso pertence a outro item. Prossigamos.

B) Conclusão do texto: Há duas conclusões que colidem.
Uma delas: ter um vice - quer o de Dilma, quer o de Serra - é apavorante. Os vices não servem para decidir, inferimos. Mas o que serviu para decidir por um dos "dois"? Nada. E os vices só aparecem no desfecho. Para acrescentar nada a coisa alguma. Além disso, esta conclusão é estranha ao bojo da tese, à outra conclusão, que está também na chamada do artigo e em seu título: escolher o novo presidente na "sorte" (chamada), no "uni,duni, tê", já que ambas candidaturas são "plausíveis", embora "opostas".
A colisão das duas conclusões: que raios de sorte é essa, se os dois possíveis resultados do "sorteio" trazem um vice apavorante?

C) Mais: a tese é também enfraquecida pelo "às vezes", tanto o é, que a chamada do artigo omite a expressão.
São visões tão opostas, plausíveis e contundentes que, às vezes, aqui da minha posição extremo murista, me dá vontade de escolher no Uni, Duni, Tê.

D) A autora se declara perdida ao introduzir seu texto. E abandona esse ponto, que justificou o contraste entre F e N. O desfecho do artigo indica que, na verdade, a atriz-autora já tinha, de antemão, aversão ("no mínimo apavorante") aos vices e uma aposta na própria perdição (vou de uni,duni, tê), em vez de procurar se decidir com uma comparação entre os dois candidatos. Todo o texto resulta, assim, inconsistente. Não há nexo entre justificativa ("estou perdida" e procurei amigos), solução (não há, e por um motivo chulo: ambas candidaturas são plausíveis) e implícita relevância do tema. Um "seja o que... quiser" basta, cabendo a nós acender uma vela forte, em terra legalmente e juridicamente católica...

E) Desperdício.
O contraste entre as duas opções é relevante, abrangeu aspectos fundamentais das duas candidaturas focadas. Em vez de isso servir para uma matéria robusta, se deu o desperdício. Assim desponta outra questão importante: se as duas argumentações (F e N) contemplam pontos positivos - e não apenas negativos -, por que um "extremo murista" como a atriz teria ímpetos tão banais?

F) Apesar de, à primeira vista, parecer "equilibrada" a comparação, no texto da atriz, entre Dilma e Serra, análise mais detida das razões de F e N revela algo que, já no consenso, distingue os dois presidenciáveis: Dilme é proxy de Lula, nada além. F, que vai votar em Dilma, fala praticamente nada dela; enfatiza Lula (e o "rival" FHC), a textura ideológica do PT e outros partidos; volta à Lula. Dilma entra apenas na contestação à ideia de que ela não tem experiência e,  mesmo aí, nada se tem além de menção à mera ocupação, por ela, de pastas ministeriais.
Já N, que votará em Serra, não põe partidos ou cabos eleitorais na frente das suas razões de voto, mas seu escolhido ele mesmo. Além disso, N defende sua escolha para futuro presidente com pontos essenciais, como educação e democracia dentro e fora (leia-se: democracia não é "negócios é o que importa e somos amigos de soberanos não importam seus lastros"), e não com pontos acidentais, como inflação e poder aquisitivo, a que recorre F.
Sobretudo, N destrói (embora o texto não ressalte isso, talvez de propósito) a única defesa - e de antemão medíocre - de Dilma: a ocupação de cargos; declara N que tais cargos são "distribuídos seguindo o critério da barganha eleitoral e não do conhecimento real da função". Isso não serve à Dilma?

Em suma, as opiniões são de fato opostas, mas não igualmente "contundentes", nem mesmo igualmente relevantes. Além disso, a própria comparação é descartada, subitamente, ao final do espaço destinado à coluna. A autora desiste até do uni, duni, tê - sorte e azar. Cabe mesmo, ela corrige, uma "vela forte".
Que entre Dilma, que entre Serra, contanto que a reza - a de "todos", não especificados - garanta a saúde do futuro presidente salamê minguê.


Mariangela Pedro


Uni, Duni, Tê
Fernanda Torres
Folha de S.Paulo, 15 de agosto de 2010 p A15


Opiniões opostas, mas plausíveis, me dão vontade de escolher na sorte

TENHO DIVERSOS amigos bem informados, com nível de escolaridade altíssimo, capacidade intelectual de dar inveja, mas totalmente discordantes quanto às próximas eleições.

   Descartados os conceitos superficiais, como o de que Dilma não é simpática e Serra é mandão, e perdida entre opiniões que prezo imensamente, pedi que dois deles, o sr. F e a sra. N, me explicassem o porquê de seu horror a qualquer outra escolha que não seja a sua.
   O sr. F sempre votou no PT e diz que Lula se saiu muito melhor do que ele mesmo esperava. Gerou mais empregos que FHC, aumentou o poder de compra dos necessitados, tirou mais brasileiros da miséria, reforçou as reservas cambiais e o crédito, diminuiu o risco Brasil, o valor do dólar, da taxa de juros e da inflação.
   Tais conquistas confirmam, na visão do sr. F, a posição do PT como um partido mais à esquerda em relação ao PSDB, focado no fortalecimento do Estado como agente regulador do mercado em uma sociedade democrática, livre e em prol das minorias.
   O sr. F afirma que Lula enfrentou uma oposição declarada da imprensa sem jamais censurá-la e considera as tentativas de regulamentação da mídia compatíveis com as existentes em outras sociedade avançadas.
   Apesar do apoio de políticos como Collor e Renan Calheiros, o sr. F argumenta que Dilma tem ao seu lado um partido, o PMDB, com uma diversidade ideológica maior do que a direita convicta reinante no DEM, em parte do PMDB, no PTB e no PPS, aliados de José Serra. Para ele, comparado com Roberto Jefferson, José Sarney mais parece Che Guevara.
   O sr. F reconhece o talento administrativo de Serra, mas rebate a ideia de que Dilma não tem experiência, já que foi secretária de Estado, ministra de Minas e Energia e da Casa Civil.
   Já a sra. N está convencida de que Serra é o candidato mais preparado pelos cargos que já ocupou e ocupa, por sua passagem irretocável na área da saúde, pelo respeito que tem à democracia, dentro e fora do país, pela defesa da liberdade de imprensa, a aversão a patrulhas ideológicas e a crença na educação como capital humano de um país.
   Dilma, aos seus olhos, é um produto de marketing que jamais recebeu um voto.
   Talvez a crítica mais contundente que a sra. N faça à gestão do PT seja o que chama de privatização das empresas públicas aos partidos políticos, e cita a má administração da Petrobras como exemplo.
   Para ela, o loteamento político das agências reguladoras do Estado brasileiro, numa prática onde os cargos são distribuídos seguindo o critério da barganha eleitoral, e não do conhecimento real da função a ser exercida, é o que de mais nocivo existe no governo atual.
   A crise dos portos e a dos aeroportos seria a prova concreta da gravidade desse costume.
   Ao contrário do sr. F, a sra. N acredita, sim, que existe um projeto de controle da liberdade de expressão no Brasil e que ele se agravará com a perpetuação do PT no governo.
   São visões tão opostas, plausíveis e contundentes que, às vezes, aqui da minha posição extremo murista, me dá vontade de escolher no Uni, Duni, Tê.
   Em dois pontos o sr. F e a sra. N concordam. O primeiro é que, apesar das bandeiras de Marina serem relevantes, sua ligação com uma igreja moralmente tão retrógrada e com um poder crescente no Brasil os afasta da vontade de apoiá-la; o segundo é que temos de acender uma vela forte e rezar pela saúde dos dois candidatos.
   Acabar na mão de qualquer um dos vices é uma perspectiva, no mínimo, apavorante.

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