Sunday, February 14, 2010

A inusitada conversa entre uma religiosa vivida e um jovem padre

... devia ter em mente que Satanás fazia uso do pecado mortal do orgulho como a pedra no caminho em que tropeçam aqueles que presumem saber ler a consciência dos outros...

- Buon giorno, padre - Donna Giacoma sussurrou atrás dele... - Está imaginando como será recebido hoje no Sacro Convento?
- Na verdade, não, madonna. Acho que estava triste... lamentando a inevitável condenação de uma alma. Recentemente conheci... uma jovem, muito inteligente. Inteligente demais para seu próprio bem.
Sentiu que a antiga onda de raiva retornava e completou:
- Uma irmã cujo hábito religioso de maneira alguma interfere com a licenciosidade corrosiva de seu íntimo. - Ele praticamente cuspiu as últimas palavras.
Os olhos de Donna Giacoma se arregalaram e ela arqueou os sobrolhos.
- Uma amiga, irmão? Deve sentir uma profunda consideração por ela para falar de forma tão acalorada.
- Não disse que era uma amiga!... O acaso uniu nosos caminhos...

A fidalga... fez sinal para que ele se sentasse... Depois que ela se acomodou..., Conrad contou tudo o que sabia sobre o passado de Amata.
- Não vou lhe falar sobre as iniquidades dela, pois algumas me foram confiadas durante o sacramento da confissão. Nem vou falar das minhas desconfianças quando pernoitamos em Santo Ubaldo, por serem apenas suposições. Mas, pelo que pude ver, acho que posso dizer com segurança que a irmã Amata escorregou para o perigoso caminho da perdição...
- Meu pobre irmão, ela deve tê-lo decepcionado bastante, sobretudo depois de vocês dois terem começado tão bem.
Vocês dois? Conrad jamais havia pensado em Amata e nele próprio como um par, mas... Donna Giacoma tinha conseguido, por assim dizer, atingir os recessos mais obscuros de seu espírito, trazendo à tona o desencanto que ele mesmo não reconhecera. Era verdade. Por um período, Amata literalmente o encantara...
...
- Sei que a irmã Amata esconde uma faca debaixo do hábito de freira.
- E por que acha que ela faz isso?
Ela mesma respondeu à própria pergunta:
- Porque precisa! Porque não tem ninguém para protegê-la...
Nada disso justifica o outro comportamento dela.
- Cuidado com a maneira como a julga, irmão. Sua Amata teve a infância roubada de forma cruel e abrupta... Será que não deveria ser perdoada por ter-se equivocado em sua busca por afeição agora? Se nosso Abençoado Salvador perdoou Madalena... se Ele pôde perdoar a mulher adúltera... você não acha que também pode perdoar essa pobre menina tão sofrida?
Conrad se remexeu na cadeira.
- Mulheres precisam de amor... Precisamos ser amparadas e tocadas, e ouvir que somos especiais entre todas as outras mulheres... Meu nobre marido, por vezes, era capaz de cometer verdadeiras monstruosidades. Deixou-me viúva esses últimos sessenta anos e, quando morreu, consagrei minha vida a Deus. Ainda assim, mesmo depois de tanto tempo, às vezes lamento o vazio em minha cama.
...Chegou a dar uma risada quando viu a expressão no rosto de Conrad.
- Feche a boca, padre. Vai engolir mosquitos... Não estou falando de sensualidade... Falo de companheirismo, do vínculo que capacita as mulheres a amarem e perdoarem até o pior dos homens... Não vai encontrar essa espécie de amor descrita nos livros de teologia, pois os teólogos não têm nenhuma experiência com esses sentimentos. Seria como se eu tentasse descrever um sátiro, que nunca vi nem toquei, embora tenham me contado que tais monstros existem.
Respirou fundo e abanou-se um pouco com a mão.
- Você também precisa saber que até mesmo as raras mulheres independentes que, em vez de se submeterem a um casamento forçado, possuem a liberdade e os meios para buscar o amor por si mesmas, não têm garantia de que escolherão com sabedoria, especialmente se não receberam, quando jovens, a orientação de uma mãe virtuosa, carinhosa e rigorosa. Quase morri de medo com a expectativa de ficar sozinha depois que Graziano morreu; acho que escolhi nosso Pai celeste para ser o próximo grande amor da minha vida, tanto por medo quanto por devoção.
O queixo de Conrad despencou até o peito. Donna Giacoma, assim como Amata, o impressionara. Provavelmente todas as mulheres sempre deixariam impressionado um homem tão inexperiente como ele.
E novamente fora humilhado por não ser capaz de levar em consideração a fraqueza, quer a chamassem de "sensualidade" ou de "amor", que tornava as mulheres (sobretudo as mais jovens) tão vulmeráveis à sedução do demônio... devia ter em mente que Satanás fazia uso do pecado mortal do orgulho como a pedra no caminho em que tropeçam aqueles que presumem saber ler a consciência dos outros...
- A senhora me deu muito sobre o que refletir... Que Deus a recompense por ter aberto sua casa e suas recordações para mim.

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p. 152, 153, 154 e 155 de A Conspiração Franciscana, por John Sack, Ed. Sextante, 2007

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